David Sacks e a Tentativa Frustrada de Anular Leis Estaduais de IA

Uma minuta vazada de uma ordem executiva revelou uma ousada manobra de poder do bilionário de tecnologia David Sacks. Na verdade, o plano era claro: posicioná-lo como o guardião da política de inteligência artificial (IA) dos Estados Unidos, centralizando o poder regulatório no governo federal.

Na semana passada, um boato sobre uma mudança monumental surgiu em Washington. A Casa Branca estaria prestes a emitir uma ordem executiva para anular leis estaduais sobre IA. Quando o rascunho vazou, contudo, a reação foi imediata, com a proposta sendo considerada politicamente inviável e possivelmente ilegal.

Uma Manobra de Poder de David Sacks na Casa Branca

O texto da ordem direcionava secretários e chefes de agências do presidente Donald Trump a emitir relatórios urgentes. Em 90 dias, eles deveriam detalhar como punir estados com leis de IA próprias. Além disso, o Procurador-Geral teria apenas 30 dias para criar uma força-tarefa jurídica com o objetivo de processar esses estados.

Crucialmente, todas as ações exigiriam consulta a David Sacks, o Assessor Especial para IA e Cripto. Isso o transformaria, consequentemente, em uma figura central na execução da política. “Não quero chamar de tomada de poder, mas foi definitivamente uma consolidação de seu poder”, disse um conselheiro próximo à Casa Branca.

A Reação Feroz à Proposta de David Sacks

O universo MAGA explodiu instantaneamente. Steve Bannon, por exemplo, dedicou parte de seu programa à minuta. No Congresso, os democratas se revoltaram publicamente, enquanto republicanos céticos à tecnologia preparavam suas próprias críticas silenciosamente. A ordem, que deveria ser assinada na sexta-feira, nunca se materializou.

Embora uma ordem executiva como essa fosse legalmente inexequível, seu efeito prático seria, ainda assim, imenso. Ela criaria um “efeito inibidor” sobre a legislação de segurança de IA nos estados, usando a ameaça de reter fundos federais — desde verbas para banda larga até recursos para rodovias — como ferramenta de pressão.

David Sacks, o Guardião da Política de IA

Com status de funcionário provisório, David Sacks é visto como o principal canal de comunicação de Trump com os grandes CEOs de tecnologia. Ele atua para proteger os interesses do setor, defendendo uma abordagem que, segundo fontes, visa manter a vantagem competitiva da América e, ao mesmo tempo, proteger “seu pessoal”.

No entanto, David Sacks também enfrentava uma ameaça interna. Uma aliança informal entre progressistas remanescentes da administração Biden e a ala dura do movimento MAGA, ambos desconfiados do poder das Big Techs, se formou justamente para limitar sua influência no governo.

As Agências Excluídas do Jogo por David Sacks

Especialistas em política de tecnologia notaram rapidamente quem foi deixado de fora. A ordem de IA do presidente Joe Biden em 2023 envolvia uma vasta gama de agências. A minuta de Sacks, por outro lado, excluía nomes importantes.

NIST (Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia): Responsável pela pesquisa de gerenciamento de riscos em IA.
OSTP (Gabinete de Política Científica e Tecnológica): Centraliza as políticas de tecnologia da administração.
CISA (Agência de Segurança Cibernética e de Infraestrutura): Focada em ameaças à segurança nacional na internet.

Em vez disso, o poder foi concentrado em quatro agências, todas aconselhadas por David Sacks: os Departamentos de Justiça e Comércio, a Comissão Federal de Comércio (FTC) e a Comissão Federal de Comunicações (FCC). Todas teriam poder para punir os estados.

A Aliança Inesperada Contra o Vale do Silício

Os republicanos populistas viram a influência de David Sacks como uma ameaça à soberania dos estados. Eles acreditam que a regulamentação da inteligência artificial é necessária porque a tecnologia ameaça valores conservadores, e desconfiam da rápida mudança de lado dos CEOs, que antes apoiavam democratas.

Essa incompatibilidade ideológica, portanto, alimentou a oposição. “A base do Partido Republicano não está com David Sacks e Marc Andreessen nisso”, afirmou Brendan Steinhauser, um estrategista republicano. A abordagem agressiva, típica do Vale do Silício, apenas aprofundou a divisão.

Como resultado, a pressão foi suficiente para forçar um recuo. Na semana seguinte, a Casa Branca assinou uma ordem sobre IA, mas sobre um projeto completamente diferente, focado no desenvolvimento de IA nos Laboratórios Nacionais. O fracasso da estratégia de David Sacks para derrubar a regulação de IA nos estados ficou evidente, com seu nome sendo mencionado apenas uma vez.